O vampiro da mata atlântica - Martha Argel


Xavier Damasceno e Júlio Levereaux, dois jovens pesquisadores, são contratados para estudar a fauna de um grande trecho da Mata Atlântica onde deverá ser criada uma área de preservação. Depois de uma viagem debaixo de chuva, eles chegam a seu destino, na ainda bem preservada região do Alto Ribeira, sul do estado de São Paulo. O acesso ao local é ruim e só poderão sair de lá após alguns dias de sol. Mas para eles, bem equipados, com comida suficiente e apaixonados pelo mato, aquilo não é uma catástrofe. À medida que realizam seu trabalho, constatam que a área, belíssima, é perfeita para a conservação. Fascinados com suas descobertas sucessivas, porém, não se dão conta de que estão sendo espreitados por um monstruoso ser noturno. Quando se confrontam com a criatura, os dois rapazes devem lutar para salvar suas vidas, e os únicos recursos a que podem recorrer são o equipamento de trabalho de campo, seu conhecimento e sua criatividade.
Um livro que com certeza vai conquistar a todos! eu recomendo^^

Leiam abaixo um pedacinho da história e digam se não ficaram beem curiosos...

Era noite – ele sabia que era noite – mas por que ele podia ver a floresta com tanta clareza, como se o sol estivesse brilhando alto no céu? Por que o ar estava tão cheio de ruídos e de cheiros? Ele ouvia pequenos animais, ratos silvestres talvez, andando pelo chão da floresta, ouvia até suas respirações e os corações minúsculos batendo rápidos em seus corpos. A brisa quase inexistente trouxe um cheiro de bicho do mato, e ele soube com surpreendente certeza que uma jaguatirica trotava por um carreiro a uns bons duzentos passos de distância.
E ele se sentia mais forte, mais cheio de energia do que nunca.
Não, ele não estava morto.
Ou estava? De repente lhe ocorreu que já tinha ouvido histórias demais sobre assombrações e mortos-vivos para que não houvesse uma gota de verdade por trás delas.
Passando os dedos sobre o sangue seco – seu sangue – que cobria a barriga intacta, ele teve a certeza de que morrera naquela emboscada, e que voltara como algo do outro mundo. Algo capaz de encher de terror a alma das pessoas.
Ficou algum tempo matutando sobre aquilo, até que um espasmo súbito, violento, contraiu-lhe o estômago. Curvando-se, ele apertou as mãos contra a barriga, num esforço vão de atenuar a dor.
Fome. Uma fome implacável.
Um instinto recém-despertado disse-lhe exatamente o que precisava para saciá-la. E onde fazer isso.
Ele pegou a trilha de volta para o bairro do Alto dos Lacerdas. A espingarda Boito ficou esquecida no fundo da cova. Não era a carne de paca, tenra e saborosa, que ia satisfazer seu apetite a partir de agora.